Inquietação profunda. Foi nesse estado que acordei hoje. Uma inquietação que tem origem na dicotomia entre o que eu sou e o que eu posso ser.
O que eu sou é o que eu fui treinado para ser. Graduação, doutorado, cientista, anos de experiência e tudo dedicado à causa ambiental no país. Me orgulha trabalhar em algo que faz sentido pra mim e para o bem da sociedade. E o mercado me valoriza como profissional e sempre fui bem empregado em setores sem fins lucrativos.
Mas me agonia não ter direito a ser tudo mais que eu poderia ser: fotógrafo, músico, escritor, jornalista, poeta, astrônomo, filósofo, cineasta, botânico, naturalista.
Uma vez qualificado e enquadrado em um perfil, a sociedade dificulta a mobilidade. Com as possibilidades de “ser” presas a salários e a estritas cobranças por experiência em troca de empregabilidade, a sociedade me limita e me sufoca a nunca mais ser outra pessoa. E a própria sociedade limita seus potenciais ao limitar os indivíduos.
Vender trabalho (aka tempo de vida) em troca de possibilidade de sobrevivência em sociedade é a mais brutal forma de controle com o fim único de alimentar um sistema econômico que, supostamente, existe para servir a sociedade.