E que nós enquanto esquerda tenhamos coragem de olhar no olho dessa galera que tá fudida e dizer: teu patrão é um filho da puta, esse estado é uma merda, vamos destruir tudo que tá aí pra construir algo que finalmente seja nosso, para nós, do nosso jeito, tudo nosso!
E eu me dou o direito sim de comemorar esse babaca levando uma cadeirada e espero que isso inspire a nossa esquerda a ser mais sanguínea, mais latino-americana e menos parisiense. Se for pra ter algum francês como referência, que seja Robespierre.
E se quem executou a tarefa inglória foi um outro escroto, acusado de assédio, paciência também, a história não é linear, as coisas não são preto no branco, ela é cheia de contradições, o Brasil não é para amadores, é assim que funciona. Isso não altera o poder simbólico do gesto que resultou em um quadro da extrema direita desmoralizado nacionalmente.
A questão do Datena me disparou essas reflexões, porque enquanto uma boa parte da população se sentia vingada, vi por aí manifestações desse bom mocismo que me irritaram profundamente. Sei que a beligerância deveria ser o último recurso, mas a esquerda usou e esgotou praticamente todos os recursos civilizados pra combater o Marçal e o facismo. Tem hora que pra colocar a extrema direita no seu lugar é só desse jeito mesmo, achem bonito ou não.
Só afirma que gosta por uma questão de bom mocismo. Cito essa questão do orixá, porque essa esquerda classe média e decolonial ama aquilo que idealiza sobre esses povos, mas não tem coragem de olhar para eles de verdade. Sou devoto de orixá, todos os meus deuses andam armados, com facas embainhadas na cintura. Meu povo é um povo guerreiro e tem orgulho disso. Agora se quiserem colocar a beligerância apenas nessa caixa da masculinidade, eu diria que a lente de vocês continua colonizada.
Aí essa esquerda vai apelar para seu imaginário classe média para justificar a condenação pelo sentimento do ódio. Vai entrar em brisas pacifistas, vai usar discursos decoloniais, citar povos pacíficos africanos e indígenas. Sabe, tem muita gente que diz que gosta de candomblé, de orixá, de macumba, mas que não gosta do sacrifício animal. Pra mim essa pessoa é hipocrita, porque se não gosta de uma parte tão sagrada e importante, ela não gosta da minha cultura.
E a esquerda, cheia de pessoas de classe média, intelectualizadas e melancolizadas, para meu total desespero não opta por uma saída radical, revolucionária, inclusive é uma esquerda que não se permite nem sentir ódio. É a esquerda do bom mocismo, mais cristã que os próprios cristãos, que estão no modo Velho Testamento. E a população que está com ódio, sente empatia por quem pulsa no mesmo sentimento que eles, a raiva.
O pobre em geral não tem sangue de barata, tem raiva mesmo, ódio. Aí uma extrema direita, malandramente, convence esse cara ressentido que a elite é a esquerda, é o amigo ou primo dele que acessou uma universidade pública. Se vende como anti-sistema, outsider, promete acabar com tudo que está aí. E a esquerda não ocupa esse vácuo anti-sistema. Prefere defender a instituição, a democracia (pra quem?) e o Xandão.
Pra mim, a matemática é simples: temos uma grande população enfrentando uma vida insuportável e o ressentimento e ódio de classes pulsando no coração dessa galera. Esse ódio vem contra um sistema que, ocupado por políticos de direita ou esquerda, não resolve a vida deles, que vai se tornando cada vez mais insuportável. Eu vejo muita gente falando em derrotismo, depressão, mas a impressão que eu tenho é que se trata de mais uma vez a classe média universalizando sua subjetividade.
Estou sendo acusado de ser machista por gostar de porrada, mas eu queria dizer que eu amo uma trocação, uma briga, se acontece na rua eu paro pra assistir, eu pratico karatê, eu amo filme de porrada. Posso estar totalmente equivocado, mas eu acho que todo mundo deveria ter direito a descer o braço num fascista, independente do gênero ou orientação sexual.
A nossa esquerda ficou tão cirandeira, institucional e legalista que a gente é obrigado a comemorar uma cadeirada do Datena no Pablo Marçal. Isso mesmo, o Datena, um dos caras que chocou o ovo do fascismo em seus programas sensacionalistas. Sou um cara pacifista, mas acho que tá faltando atores da esquerda que personificam o ódio de classes, infelizmente não tá tendo.
@vespa eu tenho a teoria de que se o bloqueio durar mais de um mês a maioria das pessoas não volta pra lá, mesmo que a plataforma for liberada novamente.
Faço parte da Ayom, um coletivo digital que tem como objetivo construir um espaço saudável e criativo na internet, com protagonismo de pessoas negras e de esquerda.Sigo de volta todo mundo que tiver uma foto de perfil, postagens recentes (em português ou espanhol) e uma bio minimamente interessante.