No trajeto me deparo com uma senhora arrastando uma funcionária pelo braço, exigindo que volte para atender no caixa. Daí ouço algo como: “mas mãe, a gerente mandou eu ficar aqui, cuidando da ala das frutas”.
Sim, a cliente era mãe da funcionária, atribuindo a esta a responsabilidade pelas filas. Não sendo ingênuo, é óbvio que o trabalhador nesse contexto também pode seguir a lógica do “salário minimo, entrega mínima”. Na minha opinão, o trabalhador está certo!
No açougue e na pandaria a prática é a mesma, o funcionário que cuida das carnes também tem que fazer a faxina dos freezers, daí deixa o açougue desassistido, o que forma as filas. Subjetivamente, não temos mais o profissional açougueiro, é a lógica do faz tudo, de maneira intermitente.
Isso me lembra, macabramente, o modelo escravista do RS no período das charqueadas, onde o escravizado que limpava a bosta dos bois ( e dos porcos que comiam os restos de bois), era o mesmo que manupulava a carne (as mantas de charque), que ficava com baixa qualidade, perdendo mercado pra Montevideu e Buenas Aires.
Um pré-fordismo ou um capitalismo de “proto-forma”, como diz o professor Ricardo Antunes.