No mais recente capítulo de Caçando Sarna Para Me Coçar, as vozes da minha cabeça têm me deixado fascinado por vídeos de pessoas construindo florestas artificiais (depois de algum tempo se tornam biologicamente idênticas às naturais) em terrenos de pequeno porte.
Uma galera que tá trabalhando na Grande Muralha Verde do Senegal desenvolveu um método pra barrar a expansão do Saara que usa valas para reter a água dos poucos meses de chuva e já tão conseguindo converter solo árido no começo de uma floresta em míseros quatro anos.
Se dá trabalho? Mermão, parece que dá um belo trabalho por um belo tempo. Mas tenho a impressão de que é algo muito gratificante de ter feito, e sinto que novas florestas estão entre as coisas que o mundo de hoje precisa mais urgentemente.
E lógico que não é só uma área florestal, o que já seria muito bom e muito útil em tempos de crise climática. A idéia dos caras é que toda floresta seja um sistema agro-florestal, com uma diversidade enorme de alimentos crescendo entre a vegetação. De longe parece uma floresta, mas quem entra logo percebe que é uma quitanda de orgânicos gratuitamente disponíveis.
"Ah, mas a produçào é muito menor do que na monocultura e não segura alimentar tanta gente assim!"
Pois é, essa questão já me preocupou muito. Tanto que fui perguntar para agrônomos de SAF e para moradores de comunidades AF.
Sim, tantos metros quadrados de monocultura típica produzem, digamos, 10 kg de arroz, enquanto a mesma área no agro-florestal produz 1 kg. Pouco demais, né? Desperdício de terra, né?
Só que nesses mesmos metros quadrados o SAF também produz 1 kg de milho, 2 kg de abóbora, 3 kg de mandioca, 1 kg de pupunha, 3 kg de frutas diversas e mais 1 kg de temperos. Você soma tudo e tem mais alimentos, com maior diversidade, e sem tornar a produção de comida uma ameaça ao meio ambiente.
@corpoVirtual E embora dê bastante trabalho braçal pra começar, o processo em si é tão auto-sustentado que você meio que inicia a coisa e ela vira uma reação em cadeia, a vida se espalha muito facilmente se tiver condições mínimas. Você passa um tempo trabalhando lá, depois que termina você larga lá e quando volta anos depois já tem até macaco morando nas árvores.
@caparica isso é muito massa vei, não sei muito sobre mas ví que a china tava fazendo algo parecido plantando umas árvores no meio do deserto pra reflorestar e tals
Fora que a imagem mental de um monte de humanos chegando numa savana com ferramentas e trabalhando até ela virar uma floresta me dá muito mais vontade de viver do que a imagem mental de um monte de humanos chegando numa floresta com ferramentas e trabalhando até ela virar uma savana.
@ointersexo Tanto é mais factível que vem sendo feita sistematicamente desde antes mesmo do capitalismo. Mas a primeira já tem 8000 exemplos de ser factível, na verdade eram 8000 quando o vídeo sobre a muralha verde foi gravado, hoje devem ser mais. Lembre-se, como dizia a Ursula K Le Guin, que um dia o poder da aristocracia também pareceu inabalável e inatacável.
@ointersexo Entendo seu desânimo, mas não compartilho. Estamos sim em um momento terrivelmente difícil, mas já teve outros e aos trancos e barrancos vamos sobrevivendo. Aceitarei que é o fim quando não houver mais uma comunidade de humanos no planeta.
@caparica E nessa conta ainda entram os serviços prestados para a biosfera como um todo. Afinal, avaliar uma porção de terra apenas considerando o benefício para humanos é exatamente a lógica de toda essa destruição.
@ointersexo Essa é a pergunta, acho que pra todos nós, e acho que tem mais de uma resposta válida. O pouco que sei e posso compartilhar disso é que em um coletivo é menos difícil do que sozinho.
@Pinoinha É uma dúvida absolutamente razoável, muita gente tromba nela quando se fala em SAF. A verdade é que a agricultura não sofre com falta de terra pra produzir a comida necessária, os problemas são outros e derivam do modo como se produz na monocultura.