O real problema não é a apropriação cultural de uma arte, aqui no caso o Blues, mas sim a sua submissão à um modo de produção fálico, ou seja, uma via sublimatória da angústia descaracterizada, dissecada, tal qual uma rã, uma pobre rã, para que jovens garotos brancos possam vender cursos e masterclass ensinando a nós, negros, como tocar do blues do jeito certo, do alto de seus topetes cafonas e seus licks sem alma. Eu quero dar uma pedrada em cada que fala em John Mayer. Cafonice que dói.
@felipesiles então por exemplo, quando músicos negros usavam blue notes, acrescentando terças e sétimas menores onde "não deviam", ou seja, se fora-screvendo na lei (inventei aqui, seria contrário de inscrevendo), os músicos brancos ouviam isso e achavam um horror. aí passam se os anos, até isso ser incorporado pela teoria musical dos brancos e do porquê faz sentido, etc, etc, e os branquinhos estudando isso na escola, pros negros já ficou old, já temos bird (parker) e gillespie criando o bebop
@felipesiles isso não é a toa. a branquitude se faz pela inscrição numa regra, criando assim a negritude, que se faz pela não inscrição à regra (a de ser branco). ou seja, a branquitude é constituída justamente por uma constante codificação de tudo que ainda não foi codificado. isso faz com o que a cultura apropriada pelo branco esteja sempre à um certo delay, que é o que justamente caracteriza o cafona (aquele que está pra trás do movimento do novo)
abre parênteses, sem querer atrapalha o assunto sério, mas sem dúvida atrapalhando...
leio e só me vem a imagem de spock, todo lógico, dizendo "fascinating" https://en.wiktionary.org/wiki/fascinate#English
from fascinum (“a phallus-shaped amulet worn around the neck used in Ancient Rome [...])
fecha parênteses
@yzakius@felipesiles no fim das contas os computadores operam numa lógica fálica, a lógica clássica é fálica. a argumentação baseada em lógica portanto é fálica. portando quem é governado pela lógica, racionalidade, etc, é todo fálico. Lacan no seminário 20 então traz a lógica não-toda fálica, que explicaria o que ele considera ser a dimensão do feminino, que nada tem de biológico, mas que tem a ver com a inscrição não totalmente circunscrita no campo fálico, da linguagem.
@yzakius@felipesiles sim, eu peguei da psicanálise. o falo não enquanto pênis, mas enquanto aquilo que dá consistência física, material, ao desejo do outro, que se expressa de maneira binária enquanto presença ou ausência. em outras palavras, ou venceu ou não venceu. ou é o foda, ou não é o foda. ou é o melhor ou não é. etc. a lógica fálica é a da comparação. de quem tem o maior, de quem é mais foda, de quem é mais inteligente. mais popular, mais bonito, e no fim das contas, mais desejado.
@felipesiles e os meninos brancos reproduzem aquilo de forma completamente destituída da cultura que criou aquilo. e transformam numa corrida fálica, onde é sempre sobre ser O melhor. O mundo da música é maduro feito uma quinta série.
@felipesiles e miles declara que o jazz está morto. e então o jazz se torna currículo em grandes escolas de música como berkeley e julliard. E os negros estão fazendo o que? Rap. É um movimento constante, onde a branquitude (enquanto um modelo de sociedade) primeiro se enoja com a cultura dos garotos e garotas negras e depois fica obsecada em dissecar cada detalhe de forma teórica de modo a construir um curso caro para meninos brancos reproduzirem.
@felipesiles e novamente quando bebop começa a ser incorporado e se tornar parte da música branca, já tem miles davis e john coltrane fazendo jazz modal. e antes dele se tornar popular. aí vem a invasão britânica dos beatles e afins, que soterram a dominação do mercado pelos negros com o jazz, funk e R&B, e aí vem o miles e resolve chamar rapazes jovens do rock e inventa o fusion e o ornette coleman criando o free jazz, que basicamente norteiam o rock progressivo dos anos 70