democracia é só prevalência da maioria. se a maioria é racista, a democracia acaba sendo racista.

mas software livre não implica democracia, é algo diferente. na democracia, a maioria decide e prevalece sobre o todo. na liberdade, cada um decide sobre si.

o software livre pode carregar vieses, mas cada um pode atuar no sentido de reforçá-los, removê-los, introduzir os seus próprios ou não, mas somente em sua própria cópia. essa cópia modificada pode ser compartilhada com outros, que só ficarão sujeitos a esses vieses se não tiverem consciência deles e não se derem ao trabalho de buscá-los e corrigi-los.

no agregado, cada qual atuando para adaptar os programas aos seus próprios vieses, acaba havendo uma maior promoção dos vieses mais populares, em algo que se assemelha vagamente a uma democracia, mas que ainda dá espaço às minorias para viverem suas diferenças.

voltando ao tema do racismo, um programa livre pode sim ser racista se a pessoa ou comunidade que o criou o fizer assim. e se a maioria da comunidade de usuários o receber assim e não o modificar, assim permanecerá. mas enquanto houver usuários ou comunidades suficientes para manter uma variante antirracista, cooperando ou não com a origem, haverá uma versão antirracista que quem preferir poderá usar. numa sociedade transicionando para antirracismo, é de se esperar que a maioria dos usuários vá dando preferência à versão antirracista, e aí essa posição vai se firmando.

agora, pra provocar transformação social, democracia (no sentido de que a maioria se impõe sobre as minorias) não é eficaz, pois para transformar é preciso que a minoria consiga prevalecer sobre a maioria; se a maioria já se alinhasse com o objetivo almejado, já não seria mais transformação