se você quer dizer que meu hiperfoco, minha rigidez mental, meu senso exacerbado de justiça, minha consciência irresistível e minha depressão quando a injustiça da privação de liberdade são forçadas sobre mim são escolhas minhas e não sintomas evidentes da minha neurodiversidade, e que portanto a minha luta às vezes até autodestrutiva em defesa da minha liberdade não é consequência clara da soma desses sintomas mas também uma escolha voluntária, por que eu não deveria responder pra você escolher se levantar e buscar o lanche, ou se esforçar um pouco mais pra tolerar o incômodo auditivo? entende?
não sou como a grande maioria, pra quem as imposições de software privativo são uma inconveniência, pra quem o obstáculo de precisar usar um app de celular é algo como "não tenho dinheiro pra pagar o plano este mês" ou "meu aparelho quebrou e não consigo comprar outro". eu, pela soma das características mentais e históricas que resulta neste ser que lhe escreve, não tenho e não me permito carregar uma tornozeleira de bolso compatível com os apps do governo. eu sou excluído e isso é sim uma questão de acessibilidade porque minha existência não é compatível com a aceitação dessas imposições. para mim são barreiras tão ou mais intransponíveis que o elevador do shopping em que não cabe a sua cadeira de rodas. mas como estão dentro da minha cabeça, é mais difícil de ver, de entender, de empatizar, de reconhecer. mas como você, sou excluído pelo que sou, e considero injusto!