Lendo aqui alguns comentários hispanohablantes, me deparo com
Las personas NO SOMOS PRODUCTOS.
Isso em português faria o mais incauto dos grammarnazis tremer: “As pessoas NÃO SOMOS PRODUTOS”. “Somos” concorda, não com a terceira pessoa do plural de “Pessoas”, mas com a primeira do plural “Nós”, como uma forma de subitamente incluir o falante na frase.
Mas acreditem ou não, essa é sim uma construção legítima, e muito, mas muito comum em espanhol. Também em português. Trata-se de uma figura de linguagem com um nome engraçado de pronunciar: silepse.
Colei aqui do Toda Matéria uma definição sucinta dela:
A silepse é empregada mediante a concordância da ideia e não do termo utilizado na frase. Dessa forma, ela não obedece às regras de concordância gramatical e sim por meio de uma concordância ideológica.
Outro exemplo dessa figura seria aquele famoso refrão do Ultraje a Rigor:
Inútil, a gente somos inútil.
Apesar da intencional discordância de número entre “somos” e “inútil”, “A gente somos” é um gramaticalmente correto. Mas, como é associado à comunidade iletrada, é tido como errada segundo a maior parte da comunidade lusófona letrada. Silepse é a cobra gramatical mordendo o próprio rabo.