tava aqui refletindo.
eu prefiro muito mais "REGRAS: NÃO HÁ REGRAS" do q regras não-escritas.
(lá vou eu falar outra vez do quando eu amo o Rio e os cariocas)
tava aqui refletindo.
eu prefiro muito mais "REGRAS: NÃO HÁ REGRAS" do q regras não-escritas.
(lá vou eu falar outra vez do quando eu amo o Rio e os cariocas)
@miugnutos heheheh nenhuma
existe um negócio, de quando eu ainda tentava mascarar muito, o tempo todo, que eu chamava de "o olhar".
"o olhar" é um momento que meu interlocutor percebe q eu não sou exatamente o q ele tinha suposto que eu era até aquele segundo.
eu descrevia assim: é como se eu fosse um androide me passando por humano e desse uma piscada meio glitchada q a pessoa nota, mas é tão rápido e eu pareço tanto um humano q ela fica meio na dúvida se a minha piscada de andróide aconteceu mesmo.
nesse momento ela solta "o olhar".
eu tinha que ficar muito atenta para "o olhar" pq ele era a minha chance de tentar reverter a situação. de convencer a pessoa q é óbvio q eu não sou um androide. claramente eu sou 100% humana. confia.
@lorimeyers 011000110110111101101110011001100110100101100001 :neobot_hyper:
nós últimos anos antes do meu diagnóstico eu via "o olhar" levantava e ia embora. era crise de ansiedade imediata. eu já não conseguia parecer humana legal. e se eu tentasse por uns 15 minutos direto meu corpo começava a desligar. eu não conseguia mais ficar em pé. eu começava a sentir q eu tava morrendo.
e qual a engrenagem por trás d'O Olhar?
o olhar me informava q a pessoa estava começando a me perceber como "O Outro". quem fala sobre esse "o outro" bastante é a Simone De Beauvoir.
peguei esse trecho de um texto da Djamila na Fórum pra explicar:
"Nenhuma coletividade, portanto, se definiria nunca como Uma sem colocar imediatamente a Outra diante de si. Por exemplo, para os habitantes de certa aldeia, todas as pessoas que não pertencem ao mesmo lugar são os “outros”; para os cidadãos de um país, as pessoas de outra nacionalidade são consideradas estrangeiras."
(o resto do texto é bom tbm, pode ler, eu gosto da Djamila)
na questão da neurodivergência o que que acontece: a gente nasce assim. mas não dá pra perceber (estou me referindo principalmente ao autismo de necessidade leve ou moderada de suporte).
quando se percebe q somos diferentes? quando a gente começa a se expressar e socializar.
só que o ser humano ele tenta se adaptar. então tá lá a criancinha meio diferente, as outras criancinhas em geral não se importam muito com essa diferença. pq todas as criancinhas ainda "não sabem" como faz pra "ser humano corretamente". aí outros seres humanos, maiores (muita vezes adultos) começam a apontar q aquelas diferenças não são "corretas", q não são "aceitáveis", q devem ser "corrigidas".
com o tempo as outras criancinhas q não são neurodivergentes também vão "aprender" e impor que as "condutas ideais" sejam seguidas.
como? geralmente através da violência. verbal, física e emocional.
a criança diferente é excluída daquela coletividade. ela é o outro. ela não é "um de nós".
(tem umas coisas interessantes sobre essa relação do grupo com o outro grupo que explora como um grupo sente q a existência do outro grupo ameaça a sua própria existência e q é por isso q ele age com violência. pq ele acredita que está protegendo a própria sobrevivência, mas divago)
aí essas crianças vão aprender que se elas destoarem daquele grupo haverão consequências ruins. crianças lgbt tbm passam por isso. crianças gordas. crianças negras, indígenas, racializadas em geral. crianças com outras deficiências. qualquer um q seja visto como "o outro" vai passar por experiências similares.
uma coisa que a gente conversa muito nos fóruns de autistas sobre os neurotipicos é que "eles falam q somos agressivos, mas a gente às vezes fica agressivo quando está passando por um meltdown. eles são agressivos o tempo inteiro, qualquer coisa q eles não gostam q a gente seja ou faça eles ficam agressivos".
e meio q é verdade. essa imposição de conduta ela é agressiva e violenta. especialmente pra gente q não tem essa percepção de q o outro tem q ser igual a gente. a gente sabe q não é. a vida inteira foi esfregado na nossa cara o quanto nós não somos iguais.
então na tentativa e erro a gente vai aprendendo e descobrindo o q q a gente é e o q q a gente faz que causa uma reação agressiva e violenta da maioria das pessoas. e quanto mais a gente vive mais a gente descobre essas coisas e vai adicionando na nossa biblioteca mental. e ensaiando o q fazer antes de fazer. e prestando bastante atenção enquanto a gente faz. e analisando posteriormente o q a gente fez.
pensa na quantidade de processamento mental q a gente precisa gastar pra fazer isso.
nossos cérebros podem ser incríveis (principalmente aqueles de nós que também tem altas habilidades), mas é uma maneira de existir no mundo extremamente torturante e exaustiva.
aí volto n'O Olhar (eu vou chegar nos cariocas, tá quase)
O Olhar é a minha indicação de q eu falhei em parecer um ser humano.
quando ele acontecia eu tinha que DESCOBRIR onde eu falhei. pq eu só falhei pq eu não sei. eu não faço idéia. e aí meu cérebro ficava doido checando tudo q eu tinha acumulado de conhecimento até então e revendo cenas e conferindo diálogos.
isso tudo ao mesmo tempo q eu tinha q manter uma expressão facial amigável (q também não é uma coisa q meu corpo faz naturalmente), um tom de voz expressivo e no volume correto (q tbm não me é natural), mantendo a quantidade certa de contato visual (não pode olhar sem parar e tbm não pode não olhar)....
tudo isso consciente de que "se eu falhar essa pessoa provavelmente vai me agredir".
claro q vivendo em sociedade não era nem raro eu me reencontrar com O Olhar. direto acontecia. numa loja, num táxi, na universidade, no trabalho, conversando com conhecidos. O Olhar do nada podia aparecer e eu tinha q reagir rápido.
aí a gente viaja e descobre q "ser humano" é diferente em outros lugares e tem que aprender. O Olhar vem toda hora no começo, mas a gente vai recolhendo informações e refinando o comportamento. se a gente ficar muito tempo num lugar ou for muitas vezes na mesma cidade a gente vai pegando o jeito.
Curitiba é um inferno. São Paulo é pior do q aqui, mas é melhor q Curitiba. as periferias são mil vezes melhores do q as áreas mais ricas.
aí vem o Rio.....
o Rio meus amigos NÃO TEM REGRAS
imagina isso pra um cérebro autista. que precisa de regras. que precisa de previsibilidade. q precisa estudar antes e ensaiar e checar o manual. vc chega num lugar que simplesmente FODA-SE. vc tá com as partituras embaixo do braço e todo mundo tá só tocando de ouvido. e tocando bem.
o trânsito? foda-se. eles botam uns negócio no chão e uma rua q só podia ir pra lá agora só pode vir pra cá. TODO DIA.
código de vestimenta? foda-se. vai ter gente vestida de gala do lado de alguém de shortinho e chinelas.
códigos de conduta? foda-se. cada um age do jeito q quer. uns gritam e falam palavrões. outros são extremamente formais. em qualquer lugar.
mas o carioca é diferente. talvez por isso. talvez por ser todo mundo tudo ao mesmo tempo. eles convivem com a diferença com naturalidade o tempo inteiro.
e aí vem O Olhar. e quando vem O Olhar eles não ficam agressivos. eles ficam afetuosos. vem aqui eu te ajudo. "PQP FULANO VC NÃO TÁ VENDO Q A MENINA AQUI QUER FAZER UM PEDIDO?".
no Rio quando eles soltam O Olhar às vezes eles também soltam "PORRA MALUCO, TÁ DE SACANAGEM?" e eles percebem tão rápido q eu não tô de sacanagem. e eles são fofos.
o Rio é muito doido. só aconteceu coisa doida comigo lá.
eu vagando por uma rua escura perdida o taxista só parar do lado e "entra" e depois puto "q q vc tá fazendo? vc quer morrer?" hehehehehe não, eu só dei tela azul.
bater papo com o motorista do ônibus e ele te achar tão gente boa q muda a rota pra te deixar num lugar mais perto da onde vc quer ir. do nada.
depois d'O Olhar, no Rio, eu sempre recebi sorrisos, e fiz amizades.
então é isso.
NÃO HÁ REGRAS
é bem melhor do q essas regras escrotas e sem sentido q nem estão descritas com clareza em lugar nenhum.
@lorimeyers @mastoreaderio unroll
@cadusilva te amo cadu vc é o mais foda 😘
@lorimeyers :neofox_heart:
@tecnorganico eu fiquei feliz com a sua mensagem. a gente encontrar os nossos é reconfortante. e sim, as diferenças são melhores abraçadas entre grupos que sabem o q é sofrer preconceitos.
@lorimeyers caramba guria. eu terminei de ler seu texto chorando. recebi meu laudo de autismo tem dois dias. e ler você agora me ajudou a compreender muita coisa. não sou carioca, mas moro baixada fluminense(região metropolitana do rio) tem mais de 15 anos, aqui é tudo isso q vc falou elevado ao quadrado. o acolhimento que eu recebo até hoje na rua é surreal. isso q vc comenta do rio eu vejo mais na cidade do rio, e já é bastante difícil pra mim, ao mesmo tempo que muito melhor, realmente, do q qdo estou em SP. nunca fui em Curitiba, mas diria tb q essas regras sociais podem ser mais severamente cobradas por estarem atreladas a questões raciais, de gênero e de classe. sempre me senti mais à vontade entre gente preta e pobre, muito mais do q com gnt branca e rica, em qlqr lugar q eu fui neste país. ps.: sou um homem negro bissexual e pobre kkkkk.
@ointersexo @lorimeyers tá me ajudando a ter mais ansiedade no momento kkkkkk. além do autismo sou TDAH com desatenção predominante. eu honestamente só consegui pensar no psiquiatra e to completamente perdido no que fazer.
@tecnorganico @ointersexo quando vc começar a usar as estratégias para diminuir os estímulos que te sobrecarregam a questão da ansiedade dá uma aliviada boa.
@tecnorganico @lorimeyers que o laudo ajude de alguma forma
@lorimeyers @tecnorganico essa frase é pra mim ou ele?
@ointersexo @tecnorganico pode ser pra qualquer um dos dois. diminuir os estímulos dá uma aliviada boa nas crises de ansiedade.
@Kriptolix eu tenho uma forte convicção de q nem existe altas habilidades sem autismo (tem gente q defende q exista, mas a impressão q eu tenho é de q não).
qdo eu era criança não diagnosticavam meninas como autistas então a única suspeita q levantaram sobre mim foi "superdotação" (q era como eles chamavam altas habilidades na época).
eu acho q o mundo vai ser menos duro com seu filho do q foi pra gente. pelo menos é o q estamos tentando construir pra eles.
@lorimeyers Eu não tenho diagnostico mas , provavelmente, tenho altas habilidades. Fui "o outro" a vida toda e sou muito eficiente em simular "normalidade". Nunca quis ter filhos pq sempre tive medo de ver uma criança passar pelo sofrimento que é esse processo de aprender a se adaptar ao mundo.
Acabei sendo pai, meu filho foi diagnosticado com dupla excepcionalidade (autismo e altas habilidades) e agora estou aqui sendo obrigado reviver todo o tormento que foi minha infância de adolescência como espectador, o que se provou tão terrível quando eu sempre pensei que seria.
Não tem nada pior do que ver uma pessoa que você ama sofrer e, além de não poder fazer nada, você ainda saber que é so começo. Os tratamentos ajudam, mas muita coisa é inevitável.
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