Estava aqui ouvindo o relato de um amigo do conje e pensando que o tanto de assédio moral que eu sofri no Instituto de Química da Unicamp é uma mazela psicológica que vou carregar pro resto da vida. No começo, eu chorava, eu tremia, eu me batia, eu me machucava, eu gritava sozinha... Mais para o final da graduação, calejada de assédio, eu já batia de frente e mandava ir se lascar. Mas não sem grandes e profundas cicatrizes.
@ana que coisa horrorosa. Sinto muito que tenha passado por isso. Quando eu era estudante, presenciei comportamentos muito errados, que hoje sem dúvida seriam identificados como assédio.
Uma das piores coisas era falar sozinha. Você falava, denunciava, chorava, algumas pessoas até te ouviam, mas não levavam a sério sua denúncia, sua dor. Pouquíssimas tomavam seu partido. Muitas passavam a história adiante com "ah, mas não deve ter sido tudo isso, ela tá exagerando". Outras te diziam "isso não é nada, você tem que encarar e seguir a vida".
Chega num ponto em que você se questiona se a doida não é você, mesmo.
Não tenho nenhuma saudade daquele lugar e das pessoas que o frequentam.
A moral da história? Nenhuma, eu só queria colocar aqui que os traumas vão me acompanhar para sempre, mas hoje em dia eu aprendi a me colocar como a babaca de vez, já que é pra ser babaca, vai ser me colocando com firmeza.
A história que rola é que eu sou uma pessoa difícil de lidar, intragável, chata, temperamental, grossa... Talvez eu seja tudo isso mesmo, mas nada justifica os assédios morais que sofri, a ponto de professor universitário que era meu orientador de apoio didático (em sala de aula) falar alto e em bom som que eu era a pior pessoa que ele já tinha conhecido. Eu, com 20 anos, ser a pior pessoa que ele conheceu na vida TODA dele? Impossível, isso é assédio, somente.
A casta universitária é uma nojeira sem fim. O desbalanço de poder entre professor universitário e aluno universitário é ENORME, principalmente na Universidade pública. É uma série de conflito de interesses, você tem o problema com um professor e vai resolver no órgão competente e a pessoa que tá lá é esposa, pai, ou filha do professor original. E mesmo quem é pária entre os colegas, bota no cu de alune porque nós somos o ponto fraco da cadeia para elus galgarem a carreira delus.
@ana já vi muita coisa errada, enquanto estudante e depois como professor. Também já vi processos acabarem com responsabilização efetiva, até exoneração. Mas falta muito ainda.
@biloti difícil. Sei que como professor universitário a gente acaba vendo as coisas diferentemente em alguns aspectos (talvez você veja os processos de forma um pouco diferente que eu vejo agora), mas como eu ainda não estou lá (talvez nunca esteja, vai saber), por enquanto o que me sobra é um profundo ressentimento de alune fruto das experiências tristes que passei...
@lxo eu até entendo aonde esse texto quis chegar, mas tem algumas coisas que para mim estragam fatalmente o texto.
1) "Historically, academia was a haven for neurodiversity of all sorts." Isso aqui não é nem perto da verdade, autistas estavam mais perto dos manicômios e do total apartamento da sociedade, assim como outras pessoas consideradas "loucas". A não ser que a definição de neurodiversidade seja bem limitada a algo como a antiga síndrome de Asperger (e é, pelo contexto); (+)
@lxo 2) A equiparação indireta do ser neurodivergente com o ser esquisito e excêntrico e inteligente não é verdade, muitos (muitos) autistas não são capazes de navegar a academia por serem inclusive pessoas com graves deficiências intelectuais. Eu diria até que são maioria dos diagnosticados. (+)
@lxo 3) Colocar como "inimigos" neurodivergentes e minorias étnicas, econômicas e de gênero é um absurdo, já que muitos neurodivergentes TAMBÉM não parte desses grupos, e geralmente são os mais vulneráveis.
4) Existe uma linha muito tênue entre ser censurado e ser alertado de um comportamento opressivo - note que não digo ofensivo, digo opressivo mesmo. Pessoas neurodivergentes são parte da sociedade e não estão isentas de contribuir para padrões de opressão como racismo, misoginia, etc.
@lxo 4 (cont.)) Ser esquisito não é passe pra ser racista. E parece que o texto inteiro o cara insiste na tecla de que sim, eu posso falar o que eu quiser porque sou autista.
5) Pode ser difícil para nós autistas aprendermos todas essas ferramentas para diferenciar o que é opressão do que não é, e como se comunicar - na verdade, muitas vezes não só pode, como é - mas isso não significa que não é importante. (+)
@lxo como disse em 2: 6) O texto é todo escrito sob a lógica da aspie supremacy que eu acho tosca e escrota para com outras pessoas autistas...
7) O que me estressa mais é que ele poderia ter ido por qualquer caminho pra falar das nossas dificuldades de comunicação na academia (e em qualquer lugar), e o que não faltam são essas dificuldades, mas decidiu fazer isso colocando justamente em oposição a outras minorias!!! Não entendo o porquê!!! (+)
@lxo 7 (cont.)) Não fui censurada por pessoas negras ou LGBTQIA+, fui censurada por professores neurotípicos que não se importam nem um pouco com essas causas...
Enfim, agradeço o compartilhamento do texto, mas não consigo concordar com ele :( e agradeço a solidariedade também. Desculpe quebrar coisas em um fio, mas sabe como é o Mastodon...
nossa! que perspectiva diferente, surpreendente e rica você traz desse texto. eu não tinha conseguido perceber vários dos pontos que você levanta, vou precisar revisitar o texto pra ver se consigo identificá-los agora.
sinto muito por ter com ele lhe trazido tanta coisa ruim, tanto sofrimento. posso assegurar que não era essa a minha compreensão nem minha expectativa, e, se algo bom sai desse vacilo meu, é que tive oportunidade de ser exposto a uma perspectiva tão enriquecedora, que seguramente vai me fazer rever muita coisa. muito obrigado!
@lxo imagina, eu entendi que você veio de um ponto de boa intenção, até por isso eu respondi sua sugestão de forma solícita, porque acho importante que analise por essa ótica. Um bom resto de feriado pra ti!
reli o texto e consegui identificar alguns pontos que você levantou que realmente me haviam escapado
eu ainda saio com uma identificação fortíssima com a situação de vítima de discriminação por conta de mal entendidos, distorções e incapacidade de prever reações, até porque essas situações me perseguem desde a infância.
o posicionamento direitista que transpira no texto é justamente a parte que me incomoda, mas que eu acabei relevando porque pra mim há algo mais forte ali. quero crer que aquilo que eu relevei e depois até esqueci foi justamente o que pegou pra você :-(
o que eu não achei foi a oposição a outras minorias que você levantou em (3) e reforçou em (4) e (7). talvez porque minha experiência sempre foi de ser acusado de posições que não são minhas, mas que pessoas de alguma invariavelmente forma surpreendente identificam em algo de minha fala ou escrita e se põem a me julgar como se eu fosse culpado pela associação que fizeram, pelos horrores que atribuíram indevidamente a mim. já vi isso acontecer com outros neurodivergentes também, e essa é a fonte de minha identificação com o texto.
tenho claro pra mim que é perfeitamente possível que neurodivergentes também tomem posições reprováveis (o próprio texto é um exemplo disso ;-), mas minha experiência própria é de enfrentar intolerância e julgamentos apressados baseados em suposições equivocadas e distorções.
adoraria ter outra referência que expusesse o tema, pra mim tão relevante, sem os ruídos que nos incomodam. por acaso você (ou quem mais estiver acompanhando) tem algum pra compartilhar? talvez até alguns, até porque uma diversidade de posições políticas legítimas, excêntricas ou não, apontando o problema poderia dar uma real noção de quão cruel, daninho e comum ele é.