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É indiscutível a importância do legado arquitetônico militar português do Brasil, encontrado principalmente no Nordeste e Sudeste do país, e especialmente ao longo do litoral com um objetivo bem claro: proteger o território de invasores estrangeiros – e houve muitos: espanhóis no Mato Grosso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; holandeses em Pernambuco; franceses no Rio de Janeiro. Logo, os muros, guaritas, seteiras e fossos deveriam garantir a resistência e o ataque às forças inimigas. Da mesma forma, mas com um componente a mais (a espiritualidade), os conventos construídos no período colonial brasileiro também pareciam fortalezas, erguidos para proteger não somente dos eventuais invasores pagãos, mas também para separar os religiosos dos perigos diabólicos do mundo exterior.
Logo após o Descobrimento do Brasil, as primeiras construções realizadas foram as fortalezas, erguidas com o objetivo de defesa das vilas e cidades litorâneas. Os arquitetos eram militares e, posteriormente, padres jesuítas, que fundaram vilas e construíram igrejas e conventos. Vilas para ocupação e igrejas para manter a fé cristã entre os colonizadores e promover a catequese dos índios. Ao chegar, os colonizadores iniciaram a ocupação da terra e preocuparam-se, antes de qualquer coisa, em defender o território tomado e ensinar sua cultura aos nativos. Ao se estabelecer aqui, após as expedições exploradoras, as primeiras construções edificadas, que são igualmente as primeiras manifestações artísticas dos portugueses no novo território, são os fortes e as igrejas. A primeira, para assegurar o domínio de El-rei, o segundo, para render devoção a Deus. Um para defender os homens na Terra, o outro para proporcionar a entrada dos homens no céu. Várias dessas fortalezas históricas são propriedade das Forças Armadas e cuidadas por elas. É o caso da Fortaleza de Santa Cruz (Niterói).
Quanto às construções militares, também parecem se assemelhar, em alguns aspectos, com a história medieval das fortificações. O Forte de São Tiago (Bertioga/SP), por exemplo – o primeiro em solo brasileiro – começou com uma paliçada de madeira, tal como os castelos europeus da Alta Idade Média. Muros e paredes e alvenaria vieram depois. Ovos e óleo de baleia eram alguns dos materiais usados para dar liga e resistência às grossas paredes. A Fortaleza dos Reis Magos é a mais conservada e completa construção militar brasileira do período colonial. Fica em Natal (RN) e começou a ser construída ainda no século 16, em 1598. O projeto é semelhante ao do Forte de Jesus de Mombaça, em Portugal, e revela as mais avançadas técnicas de defesa da época. A Fortaleza dos Reis Magos tem valor simbólico desde que foi construída, pois mostrava o poderio da Coroa Portuguesa unida à Espanha, defendendo o litoral de piratas. Em 1631, caiu em poder dos holandeses e passou a se chamar Castelo Ceulen, sendo retomada em 1654.
Quase todos os fortes ficam em solo firme, mas uma exceção deve ser apontada: o Forte de São Marcelo, na Baía de Todos os Santos, a cerca de 300 metros da praia. Cabe ainda mencionar outras construções militares com algum elemento peculiar e distintivo. O Real Forte Príncipe da Beira, em Rondônia, é a fortaleza mais ao interior, longe do oceano, localizada na fronteira com a Bolívia, à margem direita do rio Guaporé. Também na Amazônia, há a Fortaleza de São José de Macapá, à margem esquerda do rio Amazonas, numa área total de 84 mil metros quadrados. Ambos possuem formato de estrela com quatro pontas, mas não são tão antigos, datando da segunda metade do século XVIII. A Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói, parece uma pequena cidade: possui escadas, túneis, celas e calabouços, capela e até ruas e vielas, quase formando um labirinto (ou uma pequena vila medieval). Outro exemplo emblemático foi o Forte de Coimbra construído, em 1775, para a defesa da fronteira portuguesa com a América espanhola (atuais Paraguai e Bolívia), até 1872.
Suas construções consolidaram a supremacia portuguesa numa área até então indomada.